Viajante

Tênis no pé, mochila a tira colo.

Caminha por entre as vielas da cidade histórica, pedras no chão, águas que refletem sua imagem, ignora a visão. Está mais impressionada com quem passa ao seu lado numa correria habitual de turista. Querem sugar tudo no menor tempo possível.

Ela observa.

No vai e vem das carruagens, gente, cavalo, cachorro, alguém.

Tira foto, faz pose, esquece o lugar onde pisa. Para. Olha. Acompanha. Parece que ele corre. Está em busca de algo.

Sumiu.

Mais uma pose, menos uma foto.

Cansada de ser fotografada, começa a fotografar. Da mochila, saem uma máquina Sony, pilhas, flash, e a vontade de registrar, em closes, o que ela sente.

Muitas portas, cores, janelas, ruelas. Uma janela. No fundo, bem longe um violão toca, imagina na sua cabeça o sax acompanhando o instrumento.  Olha por entre as frestas, cabeças e mini-multidões.

Nada.

Caminha com a audição, esquece os passos, pisa em falso, escorrega, lentamente tropeça por entre poças.

Achou.

Da janela, o click perfeito. O som do violão, o enquadramento dele na moldura dessa foto. Ele, que corria, buscava, não achou. Foi achado.

E como quem sabe que está sendo observado, se vira a procura da lente, ou do olhar.

Encontra.

Preparado para, enfim, descarregar o peso, solta a voz que tem o poder de um trovão, mas a delicadeza de um lírio.

A máquina não registra. A memória sim. Deixa o instrumento pender sobre o pescoço. Não mais importa o close.

A voz encanta, o olhar desvenda que a correria era para libertar a voz que o agoniava querendo sair. Querendo ser ouvida, por aquela que ali estava.

Da janela a observar com olhos de comer fotografia.

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